domingo, 9 de março de 2008

Gruta da Figueira Brava

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A Gruta situa-se, nas coordenadas 38º 28' 23" de latitude Norte e 8º 59' 42" de longitude Oeste de Greenwich, no sopé da encosta meridional do maciço da serra da Arrábida, entre Alpertuche e o Portinho da Arrábida, a ocidente do Forte do Creiro, em arribas escavadas pelo mar no Plistocénico, numa zona actualmente representada por conglomerados, provenientes de terraços marinhos de 12-15 e 5-8 metros, resultantes do último intreglaciário e ao princípio da glaciação de Wurm (100.000 Anos), com o avanço temporal desta glaciação, digamos que o nível do mar foi descendo, ficando, à cerca de 30.000 anos (data dos primeiros vestígios de ocupação humana, na gruta) à volta de 60 metros abaixo da Gruta, espraiando-se por vasta planície litoral (1) , actualmente, o desnível da gruta ao nível do mar deverá situar-se entre os 5 metros. Onde surgem relativamente perto, mais duas ocorrências de destaque, a cerca de poucas dezenas de metros encontramos a Lapa de Stª. Margarida, e na área de Galapagos, numa trincheira da estrada EN 379-1, uma nova jazida do Paleolítico (9).
Note-se que nesta região, (Lapa de Stª. Margarida), já tinha sido visitada e estudada, por Breuil e Zbyszewski, em 1940, onde recolheram um biface " abevilense " e vários artefactos de quartzo considerados " mustierenses ". E que na nova jazida de Galapagos, foram recolhidos por, M. Telles Antunes, peças de quartzo e sílex semelhantes ás da Figueira Brava.
Note-se ainda que a Serra da Arrábida foi uma ilha durante, vários períodos de tempo geológico (Antunes, 1999), nomeadamente durante o Miocénico o que pode muito bem, ter provocado a manutenção e desenvolvimento de conjuntos faunísticos de formas arcaicas e outras endémicas.
Descoberta em 1942 por Henri Breuill e G. Zbyzewsky.
Do ponto de vista espeleológico, trata-se de uma cavidade resultante de dois factores naturais:
Intensa actividade cársica da zona, constituída por rochas carbonatadas detríticas do miocénico.
Vasta plataforma de abrasão marinho em épocas em que o nível do mar se encontrava acima do actual.
A entrada efectua-se, pela falésia natural, devida ao alargamento de uma diaclase vertical a cerca de 5 metros acima do nível da preia-mar, na base da serra da Arrábida. A primeira sala, com cerca de 12 m de comprimento e alta, muito adulterada por " ocupações recentes " incluindo uma casa clandestina felizmente, já demolida. Esta galeria dá acesso, através de uma passagem estreita, uma outra sala interior, bastante maior, de planta assimétrica, com cerca de 10 m de altura, coberta de espessa crosta estalagmítica, com algumas falhas, que permitiram escavação mais fácil, onde foram recolhidos vários artefactos, ilustrativos das culturas existentes.
Porém a presente 2º sala não acaba aqui, pois prolonga-se na direcção Este por corredor cada vez mais estreito e dificultando a passagem para o que será uma vasta terceira sala, observada por C. Tavares da Silva (Silva e Soares, 1986, Fig. 14), esperando-se que seja explorada, pois talvez se conservem ali, mais importantes descobertas relativas aos últimos Neandertais.
As suas formações são comuns a uma gruta natural sendo as espeleoformas normais sem nada de especial a assinalar.
Do ponto de vista arqueológico, foi considerada uma gruta de interesse fundamental, para o conhecimento dos últimos neandertais, daí ser relacionada mundialmente com os estudos universais sobre o Homo Neandertal, suas longevidades e a possível miscenização cromossomática ao longo de gerações.
Escavações Efectuadas e Publicações:
Por G. Zbyszewski e H. Breuil em 1945, as primeiras efectuadas, tendo sido detectado restos de fauna quaternária e indústria lítica.
Foram seguidas por mais sete outras, levadas a cabo por: C.Tavares da Silva e elementos do Centro de Arqueologia de Almada, sendo recolhidos artefactos líticos e fauna plistocénica.(Silva e Soares, 1986,)
Em 1986-1990, por iniciativa do Centro de Estratigrafia e Paleobiologia da Universidade Nova de Lisboa, Telles Antunes, João L.Cardoso, Carlos da Silva e Maria Soares. Por exemplo:(8)
Da prospecção efectuada em 1986, por Telles Antunes, foram recolhidos vários materiais de interesse arqueológico, nomeadamente os famosos restos de dentes de Homo Neanderthanlensis, além de outros vestígios de ocupação humana, bem como ossadas de Foca do árctico e Pinguim-gigante.
Da prospecção efectuada em 1989, por Carlos da Silva e Maria Soares, foram recolhidos diversos artefactos de quartzo e sílex da técnica Levallois, tendendo para lâminas com entalhes laterais (encoches) e denticulados, buris e núcleos. Da fauna encontrada em associação a indústria destacam-se ossos de Cervus elaphus (nota espécimes actuais podem ser vistos na Tapada Nacional de Mafra), dentes de Hyaena Crocuta (nota espécimes actuais na Galeria de imagens ) e conchas de Mytilus e Patella.
Bruno

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